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Um dia vais perceber que há palavras com um valor demasiado grande para serem ditas da boca para fora.

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sábado, 2 de outubro de 2010

seis

Telefone toca.

- Sim? Quem fala?
- Querida é o pai, ainda bem que te apanho em casa, preciso de ti neste preciso momento. - A sua voz estava a desaparecer, estaria ele bem?!
- Que se passa meu pai? - Estava preocupadíssima.
- A tua irmã, está no hospital, tem andado com umas manchas roxas e pontos vermelhos, e hoje no ATL vomitou, levámo-la ao médico mas a mãe está enfiada com ela lá dentro á horas,
anda para aqui, pede a alguém que te traga por favor.
Acho que paralisei por momentos, a minha irmãzinha estava doente? Não.
- Ok pai, o Ricardo leva-me não te preocupes. - E desliguei a chamada, sabia que me levava porque estava comigo, ele não se importava, eu agora só tinha era que pensar na minha irmã.
Estava a caminho, pedi a Ricardo que me levasse e ele nem pensou duas vezes, era tão amável que por vezes me fazia esquecer do que realmente importava naquele momento, a minha
irmã. O meu pai estava numa pilha de nervos quando cheguei ao hospital, ainda não sabia nada da minha irmã, pelos vistos estavam demorados e não tinha sido necessário ter vindo quase a voar.
Passado 2 horas, a minha mãe entra na sala de espera:
- Temos de conversar. - Ela estava séria demais.
- Diz querida, eu e a tua filha estamos aqui numa tremenda aflição, não nos faças esperar mais, por favor. - Sabia perfeitamente que o meu pai estava a entrar num esgotamento
nervoso.
- Meus queridos, não sei bem como vos dizer isto, foi muito difícil para mim perceber, entender e assimilar este problema.
- Que problema, mãe?
- A Mariana está gravemente doente, tem leucemia muito avançada, a doença nunca deu sinais de existência, mas só agora, que está mesmo no fim, sem qual quer tipo de cura é que
se manifestou, a Mariana está muito mal, já lhe destruiu as defesas todas, infelizmente ela tem um problema muito grave no seu sangue, por favor tenham calma, já tive na mesma
situação, mas o médico acalmou-me, ela não tem chance, mas ainda tem vida e como tal temos que lhe tentar dar um estilo de vida melhor até ela não aguentar, nós todos sabemos
que ela é bastante forte mas também sabemos que nestes tipos de doenças não existem milagres, ela não está triste por estar a morrer, mas sim por fazer os outros sofrer, por
isso não tenham pena dela e sim ajudem a Mariana no mais que poderem, por favor!
Fiquei em choque, não podia sequer acreditar naquilo, era impossível, NAO, NÃO, NÃO! Eu queria a
minha irmã bem, feliz e saudável, ela era tão pequenina, era impossível ter uma
doença daquelas. Sem conseguir conter as lágrimas, desceram-me no rosto que estava pálido e sem forças para dizer qualquer palavra, eu não podia deixar a minha irmã morrer, isso
não!
- Não vou aguentar mãe. - Fiquei sem forças para continuar a frase.
- Querida, ouve bem a mãe, se a Mariana aguenta nós temos mais que obrigação de aguentar e por nós mas principalmente por ela, tu és forte, eu sei que sim, podes não estar
preparada, mas ninguém aqui está. Pensa bem, tens de ir buscar forças a algum lado, ela ama-te e isso nunca irá mudar, acredita!
Para ela parecia tudo tão fácil, mas eu sabia que era a que estava a sofrer mais, era mãe, nem queria imaginar a dor que é ter um filho doente gravemente.
Entrou um médico na sala que me disse que a Mariana me queria ver, eu não sabia o que fazer, mas Ricardo deu todas as forças que podia dar e agarrou-me na mão e pediu-me
para seguir em frente sem medos, eu fui, sabia que tinha de a ver.
- Minha pequenina, como estás? - Tentei fazer um esforço.
- Eu estou bem, não te preocupes, infelizmente isto aconteceu-me a mim, mas eu só não quero que sofram por mim, principalmente tu mana. - Era tão pequenina e já pensava
como um adulto.
- Mas Mariana como queres que isso seja possível? Estás ai deitada, doente, sem eu puder fazer nada, achas que eu consigo? És demasiada importante para mim.
- Consegues, eu sei que sim, e por isso tenho que te pedir uma coisa por favor, eu sei o que me vai acontecer, mas eu vou estar para sempre contigo, prometo!
- O que pretenderes eu faço! - Eu estava totalmente segura no que estava a dizer.
- Por favor, luta pelos teus sonhos, sê feliz e faz com que a tua felicidade seja para sempre, faz com que os pais sorriam todos os dias, que a minha presença esteja entre vocês
com alegria e não com tristeza, QUERO VER-VOS SORRIR SEMPRE!- agarrou-me na mão com a sua delicadeza - e mana, és a melhor irmã de sempre, por isso nunca desistas de
nada, porque eu sei que conseguirás tudo o que pretenderes.
Eu só tinha mais dois dias, como é que conseguiria fazer aquilo tudo?! Hoje era sexta-feira e eu tinha que partir na Segunda-feira, tinha de arranjar um plano, iria conseguir fazer
tudo o que a minha irmã desejar, eu só me iria embora na quarta-feira de manhã, ligaria para a escola e para o trabalho, tinham que perceber, era a minha irmã.
- Claro minha querida, eu prometo, vou cumprir tudo o que me estás a pedir. Não desistas agora meu amor, a doença até pode estar avançada mas o teu coração é mais forte que
ela, eu sei disso.
- Eu estou mais fraca que nunca, desde que vomitei as minhas forças não voltaram a ser as mesmas, eu tenho 10 anos e até posso ser criança, mas já tenho cabeça para perceber
estas coisas. Tenho pena da mãe, ela é que vai ter que acartar com tudo, ela pode estar a fazer-se de forte mas eu sei que não está e o pai tem de a ajudar.
- Sabes, o pai é o que está mais descontrolado, ele é o que ficou totalmente em choque.
- Eu preciso de falar com ele, para ele ver que eu estou bem.
- Eu vou chama-lo meu amor, até já. Amo-te muito minha pequenina!
- E eu a ti minha irmã. - E dei-lhe um beijo na testa antes de sair.
Sai, fui direita a meu pai para lhe comunicar o que Mariana queria que eu comunicasse, ele não teve muita escolha tinha que ir ter com ela, mas eu sabia perfeitamente como é que o
meu pai estava, ele era tão transparente em relação ás pessoas, deixava que todos vissem os seus medos e sentimentos, tudo o que uma pessoa queira ver, via.
Ficaram horas a conversar, sim a minha irmã tinha que lhe comunicar muita coisa para o meu pai ficar sossegado, mas sejamos sinceros ali era o pior momento para ficarmos sossegados, eu ia perder a minha irmã a qualquer altura, não podia ser. - E ao pensar com tanta intensidade nos problemas, sem me dar por isso, comecei a chorar.
Eu e o Ricardo tivemos que ir embora, já era tarde para o hospital e os meus pais queriam que eu fosse, eles ficavam lá e se houvesse novidades diziam-me logo. Ricardo levou-me a casa, mas como era horas de jantar convidei-o para comer, era lógico, ele teve o dia todo comigo eu também tinham de estar um pouco com ele. Jantámos, arrumamos tudo e fomos para a sala, eu estava tão exausta que quase me custava a abrir os olhos, mas tinha de me lembrar de Ricardo, ele estava ali por mim, tinha de lhe dar atenção.
- Meu amor, desculpa isto tudo, perdes-te um dia para nada e agora estás aqui e eu quase a dormir.
- Oh, não digas isso, eu tenho de estar presente nos teus bons e maus momentos, ela é a tua irmã e eu gosto muito dela, era meu dever estar lá. E podes dormir minha querida, eu não me importo. - Era tão delicado.
- Obrigado, tens sido tudo para mim, se não tivesses aqui eu não conseguia ultrapassar nem metade. Não te importas tu mas importo-me eu.
- De nada meu amor, eu estarei sempre aqui ao pé de ti, até tu me rejeitares.
- Se depender de mim, vou continuar contigo sempre, prometo! - Olhamo-nos nos olhos e sentimos que todas aquelas promessas era verdadeiras, eram verdadeiras até ao ponto de depender de nós, porque a vida não depende só de nós, mas enquanto dependesses era tudo nosso.
- És linda, transmites tanta alegria e segurança, é fascinante. - Corei tanto que nem consegui responder, apenas lhe retribui com um beijo.
Mesmo sabendo da situação da minha irmã, eu sentia-me bem ali com ele, só queria mais e mais, isso fazia-me sentir mal porque como era possível numa situação destas? Mas eu tenho uma certeza, o Ricardo ajudava-me a ultrapassar tudo, era com ele que eu devia de estar.
Acordei no dia seguinte nos seus braços no meu da sala, tínhamos adormecido, os dois com tanto cansaço era normal, enfim agora tinha era que me ir despachar, tinha de pensar na minha irmã. Acordei o Ricardo e fui-me despachar enquanto que ele foi a sua casa tomar banho e dizer aos tios para onde ia, mas vinha-me buscar logo a seguir, eu não aguentava muito mais tempo sem a minha irmã. Liguei para os meus pais para saber se estava melhor, a minha mãe disse que a doença apenas de desenvolveu mais um bocado, ou seja já havia menos tempo, eu disse-lhe para virem tomar banho que eu ia já para lá, mas nem ouvidos me deram.
Esperei por Ricardo, não muito tempo porque ele era rápido, para me vir buscar, depois fomos para o hospital, lá consegui convencer a minha mãe e o meu pai a irem a casa pelo menos tomar banho, descansarem um bocado, não dormiam á horas e não tinham nada no estômago, assim não tinham forças suficientes. Passaram-se horas desde então, quando um médico veio ter comigo e me disse que a minha irmã estava pior, já lhe custava a respirar, não queria comer, estava pálida e não falava, o médico pediu-me que entrasse para poder falar com ela, mas eu não consegui ir sozinha, não tinha coragem, então Ricardo veio comigo...
Quando entrámos no quarto Mariana estava a dormir, mas eu sentei-me ao lado dela e tentei falar com ela, não tinha problemas nenhuns de Ricardo lá estar, não tinha vergonha. Agarrei-lhe na mão e disse-lhe:
- Mariana, todos nós sabemos o quanto forte és, mesmo doente tens a tua força inexplicável que ninguém tem, és demasiado nova para isto tudo meu amor, não mereces nada disto, porquê a ti meu amor, porquê? - Não me contive... - Eu sei que não vais aguentar muito tempo, mas eu quero que tu saibas que acima de tudo eu amo-te meu amor e juro-te que se pudesse trocar contigo eu trocava. - Apertou-me na mão, ela estava a ouvir, era tudo o que eu queria.
- Obrigada! - Limitou-se a falar.
Agora já podia ir, já tinha dito tudo o que queria e ela já me tinha respondido, bastou-me, sabia que ela esperaria pelos pais, eu agora só tinha que falar com eles, ela estava muito fraca para não os ter aqui.
- Mãe a Mariana piorou, tem dificuldades a respirar, a comer e a falar, está muito instável, eu tive agora com ela e ela falou comigo mas não quis abrir os olhos.
- Vamos já parai, não te preocupes. - Como é que eu não me iria preocupar? Chiça.
O Ricardo foi falar com o médico para lhe explicar algumas duvidas...
- Senhor Doutor, explique-me como é que o cancro se limitou a aparecer agora e a durar meros dias... - Ricardo estava tão preocupado quanto eu.
- Esta doença tem muitas poucas chances, ainda por cima neste caso, não sei o porque de se manifestar tão tarde, é estranho porque ela é criança e não merecia isto, agora o porque de ela estar a ser tão rápida é normal, ela é uma criança e as suas células e o seu organismo desenvolvem-se com mais rapidez, por isso a doença se desenvolver tão depressa, já afectou o seu sangue, a sua medula, já não á nada a fazer a não ser esperar.
- Dá-lhe quantos dias? - Pergunto preocupada
- No máximo, uma semana, infelizmente. O seu corpo não está desenvolvido o suficiente para suportar esta doença, ela vai acabar por não ter mais forças... - Não podia ser, meu deus, eu tinha de me mentalizar, mas era difícil, eu não a queria perder...
Bem eu queria que pelo menos fosse uma semana, Mariana não aguentou mais que 4 dias, morreu no dia 25 de Outubro de 2000, pelas 05:00 da manhã, foi o pior dia da minha vida, ela era muitíssimo importante para mim, foi muito doloroso, mas ela agora estava bem, não sofria.

5 comentários:

  1. isto foi mesmo verdade?
    fogo, que texto, comoveu-me mesmo :o

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  2. +.+ até me vieram as lagrimas aos olhos!
    Tu e esse teu jeitino para escreveres ;D
    Ta perfeito linda ;)
    Ass:Ines Justino

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  3. Adorei +.+
    Tens de acabar minha irmã :D
    eu amo-tee
    asi: Joanaa

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  4. Bem!!! está maravilhoso, mas temos de ver esse português.
    Adorei!
    Beijinhos e força para terminares.

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